Projeto Mãe no Canadá

Como as crianças do Canadá brincam?

Conversando com uma amiga sobre minha dificuldade em escrever o post do mês de junho para o Projeto Mães no Canadá, que é “brincadeiras comuns das crianças no Canadá”, ela me sugeriu o óbvio, mas que nem havia passado na minha cabeça: “Ué, pergunta pra Alicia!”. E assim o fiz.

Perguntei do que ela brincava na escola e ela me olhou com cara de quem acabou de ver um extraterrestre dançando na frente dela com tutu de bailarina, mas ainda tentou ajudar a mamãe, descrevendo, passo a passo, a rotina seu do dia a dia na creche: atividades, ir pro parque, almoço, naninha, lanchinho, parque, esperar o papai e a mamãe chegarem. Mas e brincar? Ela não conseguiu me dizer, porque para a Alicia, do alto dos seus quatro aninhos, brincar não é algo que ela faça pensando, brincar é seu estado de ser.

Pensei: “Ok, este vai ser o menor post que já escrevi na vida!”

Brincar com o que der, como quiser, esse é o lema!

Brincadeiras à parte, e depois de conversar com a diretora da creche dela para uma ajudinha porque, senão, não haveria post mesmo, caí na máxima comum de que crianças dessa idade são iguais em qualquer parte do planeta. E que, nesta creche, brincadeira é coisa séria.

Para vocês entenderem, a Alicia está no daycare (creche privada). Ela é o que chamamos de preschooler, ou criança em idade pré-escolar, cursando o kindergarten (jardim de infância). Essa creche segue o mesmo método de ensino da escola pública para esta fase escolar, que é o play-based learning, utilizando o lúdico e a experimentação para ensinar. Nada de aulas estruturadas com antecedência: o professor vai analisando o interesse das crianças e cria suas aulas baseado nisto.

É lógico que eu sempre vejo minha filha brincando em casa mas, na idade dela, as crianças ainda não brincam de forma muito estruturada. Quando juntas, podem até fazer as mesmas atividades como massinha, por exemplo, mas é cada um fazendo o seu. E quando a vejo brincando no parquinho, aí é só corre-corre, mas com a preocupação de o amiguinho estar por perto; parece que o importante é estar junto e não fazer algo estruturado junto.

Virginia, a diretora da escola, me ajudou a colocar nomes, por assim dizer, nas brincadeiras: elas brincam muito de role play (quando fingimos ser outra pessoa) e de dress up (se fantasiar), o que pra mim é a mesma coisa…? Não. Podemos fingir que somos a mamãe, o papai, o professor da escola, ainda com as nossas roupas, mas nos vestimos de princesas, nos vestimos de super-heróis, podendo ser nós mesmos ou nos transformando em princesas e super-heróis. Acho que estou analisando demais…

Agora a mãe é ela!
E o chefe também!
Princesa comedora de melancia…
E agora é o quê?

E é pelo comportamento das crianças durante as brincadeiras que os educadores “entendem”, percebem a criança, e vice-versa: elas também trazem a escola para dentro de casa. Já a vi falando coisas para as bonecas dela que nunca sairiam daqui de casa. Chego até a identificar qual professora teria dito aquilo, pelo tom de voz que a Alicia usa, igualzinho às tias dela da creche! Mas, confesso, já a peguei dizendo, também: “I’m busy, I have a lot of work to do!” (Estou ocupada, tenho muita coisa pra fazer!”), minha frase predileta…Sem contar que sempre a pego “blogando”.

Virginia me explicou que dá para perceber o carinho dos pais nas entrelinhas, o jeito que eles convivem em casa, assim como os conflitos, mesmo que a criança não os presencie.

Será que é o jeito que eu olho pra ela…?

Agora, com quatro anos e meio, é que vejo a Alicia começando a entender brincadeiras mais complexas, que envolvam instruções. Ela adora jogo da velha e pular amarelinha, mas ainda não consegue acatar totalmente as regras: quer jogar do jeito dela e não entende muito bem o que é ganhar ou perder.

Agora ela entende onde deve colocar os pezinhos quando pula amarelinha. Sim, estamos na Ikea!
Brincando de jogo da velha na neve, o jogo favorito dela

Ela brinca muito de Tag na escola: jogo onde uma criança é a que “tag” (marca) as outras, com um toque. Todos saem correndo para não serem marcados e quem é pego passa a ser o marcador. A brincadeira é bem popular por aqui, tem até um filme em cartaz com este nome, sobre um bando de marmanjos que leva a brincadeira pela vida toda. Ao que parece, baseado em vida real, acreditam?

Pelo menos para a Alicia, as músicas que eles aprendem na escola parecem ser tão importantes quanto as brincadeiras em si. Do maternal, ela trazia a música que cantava para brincar de ciranda. Da aula de português, a musiquinha da hora de guardar os brinquedos. Vira e mexe, começa a cantar canções da infância do meu marido, que nasceu aqui. O bom é que a gente recorda os nossos tempos de criança e entra na brincadeira.

Este ano, em setembro, quando começa o ano letivo no Canadá, ela vai para a escola pública, que segue o mesmo método de ensino de play-based learning mas agregando aulas estruturadas, a fim de preparar a criançada para a 1ª série (ai, ai, ai, frio na barriga!). Daí, quem sabe, eu vou ter mais coisas para escrever sobre o assunto, no ano que vem?

O importante é saber que minha filha gosta e pode brincar, sem se preocupar com o quê ou como está brincando, como qualquer outra criança da idade dela, em qualquer lugar do mundo deveria estar fazendo.

Veja como as crianças das outras mamães blogueiras que fazem parte do Projeto Mães no Canadá estão brincando, incluindo a Lívia, filhinha da Dani Vidal, a mais nova integrante do grupo:

. Adriane Junques (Ottawa, Ontario): Like a New Home

. Alessandra Schneider (Bathurst, New Brunswick): Canadiando

. Biba (Toronto, Ontario): Biba Cria

. Carol (Mississauga, Ontario): Minha Neve e Cia

. Carol (Vancouver, Bristish Columbia): Fala Maluca

. Dani (Toronto, ON) Vidal Norte

. Gabriela Ghisi (Toronto, Ontario): Gaby no Canadá

. Livi Souza (Toronto, Ontário): Baianos no Pólo Norte

. Mariana (Calgary, Alberta): De Bem com a Vida no Canadá

. Renata Luppi (Burnaby, Bristish Columbia): Mala Inquieta

. Vanessa (Calgary, Alberta): Partiu Canada

 

 

5 Comments

    1. Alessandra Cayley

      Obrigada, Dani! Viajei no tempo procurando fotos para o post, cada uma, uma história…já morrendo de saudade dessas palhaçadas e brincadeiras!

  1. Adoreiiiii!! Brincar é um estado de ser <3 e as fotos da Alicia estão sensacionais!!!!

  2. Gente que fotos mais fotas são essas!!! Fiquei lembrando de quando minhas filhas estavam nessa fase. Muito legal que você falou da rotina na creche, acho que tem muita gente que tem curiosidade sobre isso.
    Beijos

    1. Alessandra Cayley

      Oi, Livi, obrigada. É aquela fase que a gente não para de tirar foto, né? Mas já está diminuindo porque ela não deixa mais! 😉

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