Coisa de Pai, Positive Parenting

Pai com “p” maiúsculo

Feliz Dia dos Pais! Feliz Dia das Mães! Feliz Dia dos Filhos (tem esse dia?)

Essa história de “Feliz Dia de” dá pano pra manga, né? Ainda mais hoje, em tempos de Internet, de pouca paciência e tolerância saindo de moda.

Porque “Feliz” vai depender do lado da cerca em que você está ou como vê o mundo, ou mesmo onde se está, no mundo: hoje, no Canadá, por exemplo, é dia normal. O Dia dos Pais, por aqui, já passou, foi em junho, quando aí, no Brasil, ninguém estava pensando na data.

Eu não tenho pai, quer dizer, tenho mas fui conhecê-lo depois de muito, muito tempo, e tive contato com ele por pouco, pouco tempo. E faz muito, muito tempo que não sei dele. E, mesmo com o pouco tempo que tivemos juntos, sinto saudade. Ele me parecia um cara bacana, divertido, alegre, bom de papo.

Me levava para lugares legais, tinha moto, dinheiro. Com ele, tudo parecia mais fácil, a vida era uma festa, tão gostosa de se viver. Parecia que ele entendia os meus problemas como ninguém e que gostaria muito de resolvê-los (ele entrou na minha vida quando eu tinha 10 anos de idade e saiu quando eu tinha 13). Era o pai que eu gostaria de ter, se pudesse pedir de presente pra alguém.

Mas, por mais que tivesse vários atributos para desfilar por aí com a faixa de Pai Perfeito, falhou feio no teste. Já de cara, por ter abandonado minha mãe grávida, com 20 anos de idade. Daí, teve a segunda chance de se remediar e fez merda de novo. E de novo, e de novo.

Faz 30 anos que eu não o vejo e ainda sinto muito porque a coisa não deu certo, por ele não ter conseguido aprender a ser pai. Quer dizer, pai ela ainda é porque gerou um filho, o que o faz, automaticamente, um pai, certo? Mas o que eu estou falando é do Pai com “p” maiúsculo, aquele que merece ter um dia só para ele. Para ser um Pai destes, ah, meu camarada, é preciso suar a camisa. É preciso ser muito, mas muito macho.

Macho para estar do lado da mãe do seu filho, em todas as horas e em todos os momentos. Para amar este filho incondicionalmente; fazê-lo prioridade. Aprender a trocar sua fralda de merda (muitas delas), passar noites em claro por ele, zelar por seu sono quando o que você mais quer é dormir. Abdicar de sua liberdade de solteiro e seus brinquedinhos caros para comprar os brinquedinhos caros dele e poupar para seus estudos, para que ele tenha liberdade de ter a vida que ele quiser ter. Ser médico, dentista, professor, surfista, prêmio Nobel, não importa.

Macho para dividir as tarefas com a esposa e não entender porque uma parcela da sociedade o aplaude por isso, porque Pai com “p” maiúsculo é aquele que sabe seu lugar e o reivindica.

E nem precisa ter ajudado a gerar um filho, não. Existem muito padrastos, father figure por aí, que põem no chinelo muito marmanjo que se diz pai só porque um esperminha espertinho dele ajudou uma mulher a gerar outro ser. Não é assim não, meu amigo.

E a recíproca também é verdadeira. Uma vez que você aceitou a incumbência de ser o pai de uma criança que não ajudou a gerar, pense no legado (e nas marcas) que irá deixar na vidinha dela. Eu mesma acabei tendo alguns father figure durante a minha vida, angariando um rol interessante de lembranças deles. Lembranças boas, lembranças ruins, lembranças que eu coleciono como se fossem jóias raras e lembranças que eu daria um dedo da mão para esquecer.

Acho que, por tudo isso, sempre lutei com a ideia de ter filhos. Um dos meus medos era que tipo de pai eu daria para eles. Já amava minha cria mesmo antes de tê-la, porque não queria, de jeito nenhum, que ela passasse as dores que eu passei, as desilusões e as rejeições que senti.

Mas, guardem os lencinhos porque essa história tem final feliz!

Eu acabei tendo a Alicia, depois de dez anos de casamento, porque meu marido me mostrou, ao longo dos anos, que seria um Pai com “p” maiúsculo, porque sempre foi um Marido assim. Mesmo se eu pudesse pedir para alguém me dar o pai perfeito para a Alicia, ele não seria tão bom quanto o dela, de verdade, é.

Sendo um pai perfeito para a minha filha, ele vai, por tabela, me ajudando a gostar, novamente, da figura de pai, e me fazendo entender de sua vital importância no contexto da vida de um filho, de um casal, de uma família, o que antes eu não sabia.

Sendo um Pai com “p” maiúsculo para a minha filha, meu marido me faz, também, aprender a gostar e a reconhecer o Dia dos Pais como uma data a ser comemorada.

Feliz Dia dos Pais a todos os Pais com “p” maiúsculo que há por aí!

 

Fotos: arquivo pessoal

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