Uns três anos atrás, a introdução para um blog sob minha autoria seria algo do tipo: “Olá, eu sou Alessandra Cayley, jornalista paulista, que deixou sua carreira como produtora de economia e política, em São Paulo, para se aventurar na gelada e distante Toronto, no Canadá, lá pelos idos de 2003 e por lá ficou. A cidade não só virou meu novo lar, junto com meu marido canadense Derrick, e nossos dois gatos (também canadenses) Tony & Vicky, mas também meu ganha-pão. Me especializei em jornalismo de turismo e lifestyle, viajando Canadá afora e escrevendo sobre o país e sua gente, com foco em Toronto.”

Desde 27 de dezembro de 2013 porém, a apresentação mudou um pouquinho: “Olá, prazer, sou a mãe da Alicia.”

E parece que nisso está implícito tudo o que precisam saber a meu respeito.

Não me incomodo, acho até divertida a cara de espanto da pessoa quando falo que, além do fato fenomenal de ser mãe desta coisa linda, olha só, também sou microempresária (temos uma oficina de transmissão de carros) e jornalista. Uau!

Me orgulho de ser “a mãe da Alicia”, tanto que quase batizei o blog com este título. Mas percebi que, à medida que minha filha cresce, o casulinho de mãe, que tão confortável era, começou a ficar apertadinho. Minhas asinhas estão teimando em bater, novamente. Se antes me sentia culpada por querer fazer qualquer outra coisa que não cuidar dela, agora sinto obrigação moral em exercitar meus outros talentos, produzir, fazer algo mais. Algo que eu ame e me orgulhe, meu legado para a minha cria.

Recomeço a voar. E a cada voo, ainda trêmulo, tímido (e rápido o suficiente para que eu esteja de volta, lá pelas cinco da tarde, em tempo de buscá-la na creche), volto embasbacada com a diferença que é olhar o mundo com olhos de filha, e olhá-lo com olhos de mãe. Volto plena, com euforia de criança fazendo tudo pela primeira vez. E com uma vontade danada de levar minha filhota comigo, em voos cada vez mais rasantes.

Sejam bem-vindos ao nosso mundo, à nossa família, à nossa bagunça, ao nosso blog.

 

Revisão de texto: Rosangela Travençolo