Tem uma autora que eu amo, a Elizabeth Gilbert, que escreveu o livro Comer, Rezar, Amar, sabe? Eu quero ser ela quando crescer, adoro o jeito que ela escreve. Acabei de ler seu outro livro Grande Magia, todo sobre criatividade. Para Gilbert, o processo criativo tem que ser leve e a inspiração tratada com reverência. Fabuloso, todos deveriam ler.
Concordei com quase tudo o que ela diz, mas um ponto pegou: para ela, o escritor erra quando trata um livro como “filho”. A escritora se enamora, se diverte, dança e rodopia com sua obra pelo tempo que for preciso até que esteja pronta para ganhar o mundo. Daí, escancara a porta, a deixa ir e vira as costas, sem olhar para trás nem para checar se a pobre deu uma topada. Será que é isto mesmo? Como ela consegue?
Eu entendo o que ela quer dizer e concordo parcialmente com a ideia. Não dá mesmo para ficar em cima de seu livro, matéria, blog, peça de teatro, o que quer que seja, o tempo todo para saber se está bem, se alguém está falando bem ou mal dele(a). E se estiverem metendo o pau? Vou lá e dou neles? Esta parte eu entendi. Viva e deixe viver. Mas ainda não consigo ver uma obra que tenha nascido da comunhão entre mim e a inspiração como não sendo cria minha.
Este blog, como exemplo. Penso nele o dia todo, seja pelas ideias para posts que ficam pululando na minha cabeça ou por culpa de não estar me dedicando a ele mais do que gostaria.
Tal preocupação é parecida com a que eu tenho com a Alicia. Penso nela o dia todo, seja pelo que iremos fazer juntas ou por culpa de não estar me dedicando a ela mais do que gostaria.
Para mim, tanto o blog como minha filha precisam do meu tempo, cuidado e atenção para florescerem. Claro, cada um no seu devido quadrado, entenda bem.
No fundo, “renegando” ser mãe de suas obras, o que Gilbert quer dizer é para não levar para o pessoal. Nem se matar por causa de uma crítica devastadora nem se deslumbrar com um sucesso colossal. Não é porque um livro fez um tremendo estrondo que todos os outros farão. Também, cada um tem uma maneira ímpar de interpretar o que vê. Gilbert não entende como Comer Rezar Amar pôde virar bestseller e ser visto como livro de autoajuda. Segundo ela, só o que ela queria era escrever sobre o momento inusitado que estava vivendo.
E a coisa não funciona exatamente assim com nossos filhos? Não dói na alma quando alguém os critica? E o orgulho que dá quando os elogiam? Todos os filhos são iguais? Porque seu mais velho é fera em matemática o caçula também será? E quando eles fizeram o melhor e ainda assim foram incompreendidos? Não dá vontade ir lá e soltar os cachorros no infeliz que fez isso? Mas será o “sucesso” ou o “fracasso” deles algo que possamos controlar ou chamar de nossos?
Acho sábio a Gilbert separar suas obras de sua pessoa. Um exercício que deveríamos tentar com nossos filhos de carne e osso. O problema é o tal do elo entre mãe e filho, algo tão intrínseco e orgânico. O apego faz parte, não dá para negar. Mas o que não é saudável – e aí a ideia de Gilbert – é viver a vida deles.
Para mim, nada melhor do que o tempo para nos ensinar a desapegar e deixá-los seguir seus caminhos, sem se apoderar de suas conquistas ou derrotas, como a Gilbert diz que faz tão bem com os “filhos não filhos” dela.
Já consigo com meus filhos de papel, vamos ver com a Alicia. E você, consegue?