Outros Papos

Para você, um Natal feliz, não um Feliz Natal

 

A Alicia foi no mercado com o pai e eu corri para o computador, tentar escrever um post de Natal. Mais um entre milhões de outros circulando na Internet, neste momento. Outra mensagem de “Feliz Natal”, “muita paz, amor, prosperidade para você e família”. Palavras que a gente usa, dá, recebe, às vezes de coração, às vezes da boca pra fora, assim como a gente diz “Saúde” quando alguém espirra.

Feliz Natal. Quantas pessoas conseguem, de verdade, pulsarem de felicidade neste dia? Sem nenhuma amargura, saudade, restolho de mágoa, sensação de sei lá o quê, algo faltando? Acho que só criança mesmo, que ainda é pura de coração, se contenta com o que tem, enxerga beleza nos cenários mais inóspitos.

Aqui no Canadá, comemora-se o dia de Natal, ao invés da véspera, como fazemos no Brasil. Então hoje para mim está super estranho. Casa em silêncio, nenhum preparativo, low key, como eles dizem por aqui. Sossego. À noite, antes de por a Alicia para dormir, vamos preparar uma bandeja com leite e biscoitos para o Papai Noel comer quando vier entregar nossos presentes (ah, agora entendi porque ele é fofinho – imagina se come um biscoito em cada casa que parar?!). Depois que ela for dormir, colocamos os presentes debaixo da árvore e quando ela acordar: surpresa! Daí, sim é hora de comemorar o Natal com comida na mesa.

Acho que faz mais sentido do que jeito que fazemos no Brasil. Mas ainda assim, sinto falta…sinto falta de ir comprar a caixa de uva que a vó pediu, para enfeitar a mesa com frutas, lá na barraca do tiozinho na beira da estrada (será que ele ainda está lá?). Sinto falta do cheiro de tempero que inundava a casa, com a vó fazendo pernil (que eu quase sempre não comia, porque não ia com a cara da carne). Sinto falta do entra e sai de gente, que eu sempre detestei, não sei porque razão. Sinto falta da melancolia que me dava à meia-noite, porque achava que estava falando alguma coisa, mas não sabia o quê.

Hoje eu sei que não faltava nada. Talvez fosse a melancolia do futuro, batendo em hora errada. Hoje, ela ainda está aqui mas pelo menos eu sei a razão.

Não queria escrever um post triste, não é esta minha intenção, de maneira alguma. Só um alerta, talvez para mim mesma, que sejamos realmente felizes neste dia, com o que temos. Que eu seja feliz com a família que estou construindo, no país que estou vivendo, com as tradições comuns a ele. Que a minha família seja feliz lá no Brasil, no país que também é meu, com as tradições que nos são comuns. E que as lembranças, sejam elas as de outros Natais ou deste, encham os nossos corações de gratidão, porque as temos, as vivemos. E a melancolia? A minha vou tentar enterrar na neve, jogar umas bolas de neve na cabeça dela, para ver se some daqui, quem sabe funciona?

Um Natal feliz para todos que estão  lendo este post. De coração.

 

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