Desabafo, Outros Papos, Positive Parenting, Virei mãe

Valide toda birra, mesmo que a birrenta seja você

LoveUm olho no peixe e outro no gato ou, sendo mais literal: metade da atenção na filha, a outra metade no trabalho que estiver fazendo. Metade do pensamento morrendo de culpa por não estar com ela, grudadinha no sofá/brincando de boneca/desenhando/dançando/fazendo careta, a outra metade ocupada em múltiplas tarefas do trabalho e da casa que não podem esperar; não me preenchem, não me fazem feliz, mas precisam ser feitas.

E é isso que nos envelhece, que aprofunda o bigode chinês, que faz os cabelos caírem.

Que mensagem de fim de ano, hein? Mas, espera, não foi pra reclamar que eu sentei aqui (do lado da filha, que assiste “Crônicas de Natal”, no sofá). Foi pra fazer o que eu me propus a fazer quando comecei este blog: dividir momentos e perrengues da vida e da maternidade na tentativa de ajudar outras mulheres e mães a ver que elas não estão sozinhas, não são as únicas a sentirem o que sentem, a passarem pelo que passam. Porque, às vezes, a gente só quer isso, aceitação, validação, não achar que está ficando louca.

Depois de cinco meses sem escrever (e me chicoteando mentalmente, todos os dias, por isso), no meu provavelmente último post do ano, eu quis juntar alguns insights que tive agora a pouco, depois de assistir, pela enésima vez, a Alicia fazer cara de bosta pra comer. Minha tristeza, decepção com o meu não saber lidar com a situação (fiz ela se sentir mal por isso, demonstrei tristeza e o bico se instalou em ambas as partes), o não ter como escapar, fugir, sumir.

Tirei a mesa em silêncio fúnebre, comecei a lavar a louça e o desespero de não ter pra onde ir (friozão lá fora – inverno de Toronto – marido trabalhando e confinamento) de repente foi sendo substituído por pensamentos: estou cansada, exausta, acuada. Estamos juntas – só eu e ela a maior parte do dia, há vários dias. Ela, forçando a barra pra fazer o que toda criança da idade dela gosta de fazer: brincar com a mãe sem parar; assistir TV, comer tranqueira, não dormir, não tomar banho, não escovar os dentes. Ler ou lição? Endoidou?! No, só diversão.

E eu, me agarrando no mínimo da vida adulta e profissional que me resta, tentando fazer todos felizes, espremendo os minutos pra tirar mais proveito deles, fazendo tudo o que precisa e deve ser feito, tentando dar conta da lista do tamanho de rolo de papel higiênico de afazeres, mesmo que pra isso precise dormir menos – ou dormir nada – e riscar “diversão” da lista.

Ou seja, estamos exatamente em lados opostos! Como é que pode dar certo?????

E este foi o primeiro insight, seguido de uma enxurrada deles: durante todo esse ano o que eu mais fiz foi me cobrar, me cobrar, me cobrar. Pelo trabalho que perdi, por causa da pandemia, e mesmo assim não conseguir escrever para meus próprios projetos. Mas me esqueci de colocar em perspectiva que minha filha e a oficina do meu marido precisavam mais de mim, e foi o que eu fiz. Abdiquei do que me fazia feliz e realizada em prol da família. E, ao me sentir triste por isso, me cobrei mais ainda, por ser ingrata e egocêntrica.

Me cobrei e me comparei à exaustão, todos os dias, todas as noites de insônia. Mas lendo (no banheiro) a matéria “O Real Valor do Cuidado”, da Marie Claire brasileira, edição de Jan 2021, veio a validação de que não estou sozinha nessa. Que o “struggle is real” (o perrengue é verdadeiro), como dizem por aqui.

Segundo a reportagem, mulheres estão “padecendo de um esgotamento físico e mental“, como Tereza, uma das personagens da matéria que, ao perder o emprego por causa da pandemia e se ver em casa cuidando dos dois filhos e o marido que está de home office, em tempo integral, nunca se sentiu “tão pobre, tão distante de si e tão invisível“.

“Um trabalho que nem sequer questionei se podia recusar”, desabafa Tereza. É isso, outro insight! Quantas vezes não me senti assim, morrendo de vergonha de admitir? A gente tem poder de escolha? Ok, dentro de um cenário de pandemia mundial, como o que estamos passando, chega a ser ridículo um pensamento deste, mas será que é mesmo? Ou será que não seria exatamente o convite perfeito para começarmos a pensar em alternativas? Usando o exemplo de Tereza: poderia a empresa do marido ser mais flexível? Ela tem um tempo sozinha, diariamente, pra ela mesma? Se ela tem, será que ela se permite usufruir deste tempo, sem se achar “egoísta e egocêntrica” como a personagem deste post?

Usando meu exemplo, será que meu marido não poderia ter um horário de trabalho mais flexível? Sera que eu não poderia ser mais flexível comigo mesma? Desde quando ficou tão difícil constar em minha própria lista de prioridades? Será que depois da maternidade algum dia, constei?

Num curso online valioso que fiz (e não terminei, claro) com a psicóloga e educadora parental, Fernanda Teles, aprendi que para ser uma boa mãe, temos que cuidar de nós mesmas, primeiro. Cuidar das nossas feridas, dar contas das nossas “bagagens” trazidas da infância, conhecer o que nos tira do sério, a fim de prevenir estragos ao invés de remediá-los. Ter técnicas provadas e aprovadas debaixo da manga, para aqueles momentos que só dá vontade de socar, gritar, perder as estribeiras com nossos filhos amados (mais o menos o que senti hoje na hora do almoço, mas não fiz, yeah!!!).

E foi este o penúltimo insight da enxurrada de pensamentos: eu não tenho feito nada disso. As férias escolares me paralisaram, trazendo um medo apavorante de que se transforme em outros cinco meses confinada, trabalhando de casa, com minha filha sem ir pra escola ou tendo aulas online. Só nós duas, o invernão e os dois gatos, como testemunhas.

O ultimo insight foi justamente parar e ouvir a todos os anteriores: simplesmente parar, largar tudo, respirar. Fazer o que posso com o que eu tenho. Olhar para dentro, validar o que estou sentindo. Fazer algo por mim, que me faça realmente bem, dentro da realidade. O que eu escolhi? Escrever no meu blog, dividir com outras mulheres a minha experiência para que, assim como a Tereza, de Marie Claire, me ajudou, talvez eu também possa ajudar a tantas outras a se sentirem melhor, fazê-las parar e colocarem-se nas próprias listas de prioridades, nem que seja por um dia, meia hora, alguns minutos. Cadê a Alicia? Brincando com os brinquedos que ganhou de Natal e já largados, e ainda assistindo televisão – já no segundo filme. E tá tudo bem.

Meu desejo para 2021, além do coletivo de dar um fim no COVID-19, para todo o sempre, e voltar a normalidade, é que todas as mães consigam ser plenas, mulheres realizadas com a maternidade e além dela.

Um Feliz Ano Novo para Você! Gratidão e até o próximo post!

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