Quando a Alicia começa com as birras dela, eu uso uma técnica que dá certo em 99% das vezes: paro tudo, olho pra ela e digo: “Vamos começar de novo?” É o que precisa para tirá-la do estado de miserê que ela fica quando começa com manha. Um sorriso se abre e ela fica aguardando, pois sabe o que vem.
Eu viro as costas, saio do recinto, se possível, respiro fundo, estampo um belo sorriso no rosto e volto: “Oi, amor, tudo bom?!”
E aí a gente começa do zero, birra-free! Fiz isso um dia na escola dela, quando ela estava fazendo o maior escândalo, nem lembro mais o porquê. As mães e as tias presentes devem ter me achado uma louca, mas ficaram de queixo caído quando viram o resultado!
Fica aí a dica! 😉
Mas, por esses dias, quem precisou da técnica fui eu mesma. Motivo? Mais de um mês sem postar no meu próprio blog. Todos os dias, uma contagem masoquista dentro da minha cachola me lembrava do fracasso: logo de manhã ou na hora de dormir e lá vinha: “mais um dia que você não postou”. Sim, obrigada por não falhar um dia sequer de me lembrar…
Quando eu vi que já passava de uma semana sem entrar no meu blog, comecei as birras internas: pity parties homéricas (adoro esse termo! Quer dizer “festa de dó”, quando a gente fica se matando de dó da gente, sabe?), raiva por estar lotada com outros trabalhos, por não ter ajuda suficiente, por ter que priorizar outras tarefas e deadlines, por não poder dar a atenção necessária para o meu projeto, o que mais amo fazer.
Em seguida, a comparação: como as outras blogueiras conseguem e eu não? E mais pity party: elas devem ter ajuda, eu não. Elas não trabalham tanto como eu, elas isso, elas aquilo.
E mais uma semana sem blogar. E mais outra e mais outra, até que o não-blogar virou rotina. E a pity party virou passada de mão na cabeça: “Ah, mas olha quanta coisa você tem para fazer. Amanhã você faz.” E o amanhã passou e outro chegou e assim estamos com mais de um mês sem escrever uma linha.
Isso já aconteceu com você?
Seja numa dieta que quer começar, um livro que queira escrever, começar uma academia, correr. Quantas vezes a gente não passa por isso? Se enrola toda e depois não sabe sair, porque a birra interna não deixa?
É nesta hora que a “mãe” precisa entrar em ação: parar tudo, nos tirar do estupor da autocomiseração e nos convidar a começar de novo; mesmo que a sua mãe seja você mesma.
Vamos começar de novo?
Ontem fui dormir mais cedo do que costume e acordei mais cedo e disposta. Fiz o mínimo de barulho para não acordar a turma, fiz café, dei comida para os gatos e puxei meu computador da bolsa. Normalmente, não teria feito isso: teria começado qualquer outro afazer, menos priorizar a minha escrita.
Não estava preparada para escrever, mas sabia que precisava. Escrever é hábito, é prática. E precisava abrir meu coração, começar de novo.
Quem me conhece sabe que esses últimos três meses foram muito complicados para mim: meu marido tem uma oficina mecânica e eu trabalho com ele, cuidando de tudo o que não seja mecânica em si (ainda bem, se fosse o contrário, já teríamos falido): de faxina a contabilidade, do marketing a empurrar carro a e entregá-lo pronto para o cliente, quando preciso (e é sempre preciso).
Este ano, tivemos problemas com nosso contador e fomos pegos de surpresa com o tamanho do imbróglio. Fora as multas por não termos entregado nossos impostos em dia para o governo, ainda tivemos que pagar outro contador para consertar o estrago. Para amenizar os custos, eu tive que processar, novamente, toda a papelada do ano de 2016 inteirinho, em menos de um mês. Quase endoideci.
Também sou a blogueira por trás do blog em português da Tourism Toronto (vão lá prestigiar, pessoal!) e cuido das mídias sociais dele, no Facebook e Twitter. Com eles, não sou posso falhar, tenho um contrato a cumprir.
Junte-se a isso os afazeres de casa, dois gatos e uma filha pequena para cuidar e fica fácil entender porque o Alicia e Outros Papos parou.
Não, não são meras desculpas, meu ego também pensou assim. É vida real.
É vida de Canadá, onde ajuda doméstica custa caro e não há familiares por perto para dividir perrengues com você. Onde você mesma tem que agir como sua mãe, te chacoalhando para te tirar do estupor da manha, pegando sua mão e te convidando para começar de novo.
É se amar incondicionalmente, mesmo que seu blog esteja a zilhões de quilômetros de distância de onde você gostaria que estivesse; que seu cabelo esteja com três dedos de raiz (e uma cor ridícula), suas unhas sem fazer, sua barriga mais para bexiga do que para tanquinho.
É parar de olhar para o alheio e se comparar, mas se parabenizar pelo que tem feito, pelo que faz, todos os dias, o que não é pouco. É saber quem você é e de onde veio. É contar as vitórias ao invés de colecionar os fracassos.
Entregamos os impostos de 2016. Postei além do contrato nas mídias sociais do Tourism Toronto. Tem comida pronta e casa limpa, esta semana. Voltei a escrever.
Ah, e tirei sobrancelha e fiz uma bela de uma limpeza de pele, semana passada!
As coisas estão andando.
Estou de volta.
Obrigada por me ouvir e estar sempre comigo. Isso conta muito!
As três fotos em que apareço, neste post, são para ilustrar o meu estado: eu, em ocasiões diferentes, com a mesma camiseta, porque é uma das únicas que estão me servindo (me recuso a comprar roupa nova até que eu perca os quilos extra que ganhei nestes dois últimos anos). Não havia me dado conta disso até escolher as fotos para este post…