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O que fazer quando se cai em depressão?

Foto: Pixabay

Ai, ai, ai. Faz um tempão que eu não paro por aqui, que eu não paro para escrever para este espaço. Faz falta. Mas hoje eu consegui. A ideia era outro post mas achei este assunto mais apropriado, pelo momento que estou vivendo. O assunto hoje é depressão.

Pra começar, uma sugestão/pergunta: será que dá para o pessoal da medicina inventar outro termo pra esse danado de distúrbio? Sim, porque, só o nome já causa depressão, em quem está e em quem ouve! Termo pesado, eu, hein?!

Pensa: a gente não reage diferente quando alguém vira e diz: “Nossa! Tô com uma dor de cabeça/dor de barriga/dor nas costas/na joanete/artrite, artrose, o que seja” do que quando ouvimos: “Tô depressiva/em depressão/estou down”? É instantâneo: o ombro cai, o olho esbugalha, a gente não sabe o que dizer, fica aquele climão. Porque não há o que dizer.

Não tem Tylenol, Advil, Benegripe, Voltaren que ajude. Há remédios específicos para o caso? Sim, mas a gente sabe qual o certo para aquela pessoa? E o estigma que vem deles? Dizemos sem problema que tomamos metformina, vitamina C, remédio pra perder peso, pra controlar a pressão, diabetes, mas morremos de vergonha do julgamento que virá ao dizermos que precisamos de antidepressivo pra aguentar o dia.

Portanto, por detestar esse nome, resolvi cunhar, eu mesma, um nominho melhor pra coisa: não tenho depressão: daqui pra frente, o que tenho é DPS! O que acham? “Oi, miga, tudo bom? Estou com uma DPS, hoje!”. Não soa melhor? 😉

Convido-os a divulgar e começar, também, a usar o termo!

Mas, falando sério, óbvio que não sou nenhuma especialista no assunto; mas a ideia é abrir espaço para o debate e tentar passar pra frente o que me ajuda quando estou em DPS, no intuito de ajudar outras pessoas na mesma situação.

Ainda há muito tabu e desinformação quando o assunto é doença mental, incluindo a depressão. Por outro lado, nunca estudou-se tanto o cérebro, seu funcionamento e suas disfunções como os dias de hoje, o que é ótimo.

Quando mais você ler, se informar, trocar ideias sobre DPS, mais irá contribuir para desmistificá-la e desmitificá-la.

Muita gente se surpreende quando digo que tenho DPS, por achar que pessoas extrovertidas, divertidas não passem por isso. Mas sabemos que não é bem assim, com tristes exemplos na mídia, como o popular Padre Marcelo Rossi, que achava que depressão era frescura, até ser acometido por ela. Outro exemplo é o jornalista Ricardo Boechat, diagnosticado com o distúrbio em 2015, ao sofrer um colapso minutos antes de entrar no ar. Ele a descreve como “um abismo mental”, “como se a pessoa morresse, ficando viva”.

Qualquer um pode ter DPS, espaçada ou crônica, cedo ou tarde na vida, até hereditária, segundo alguns cientistas. No meu caso, acredito que corra na família: minha avó materna teve, meu tio teve e minha mãe tem. Rezo para que o gene destrambelhado morra comigo.

Conheça-te a ti mesmo

A principal arma para ajudar o próximo e ajudar a si mesmo é a informação de qualidade e conhecimento próprio.

Um livro que eu recomendo é “O Demônio do Meio-Dia“, antigo já, de 2001, do nova-iorquino Andrew Solomon, mas muito bem escrito e elucidativo. Ele está disponível de graça na internet, como no site do link.

Acho genial essa passagem do livro, quando Solomon relata a dificuldade em definir o que é depressão:

“‘Ela só pode ser descrita com metáforas e alegorias’.

Quando perguntaram a santo Antônio no deserto como ele conseguia distinguir

os anjos que vinham a ele humildemente dos demônios que vinham sob rico

disfarce, ele disse que percebia a diferença pelo modo como se sentia depois que

iam embora. Quando um anjo nos deixa, nos sentimos fortalecidos por sua

presença; quando um demônio nos deixa, sentimos o terror. O pesar é um anjo

humilde que nos deixa com pensamentos fortes e claros e uma noção de nossa

própria profundidade. A depressão é um demônio que nos deixa aterrados.”

Eu tive minha primeira e única crise brava de DPS há uns dez anos, quando passei por um bullying profissional violento. Só me dei conta de que poderia ser DPS quando me peguei, numa manhã, deitada na cama, sem aspiração nenhuma em levantar, com uma tristeza tão profunda, que parecia vir da alma. Lágrimas rolando, sem motivo aparente. Eu não queria me mexer. Só a mente trabalhava, tecendo planos sobre a minha morte. Oi? Essa não sou eu!

Precisei de tratamento terapêutico, de medicação e me afastar do trabalho para conseguir me curar – daquela crise – porque DPS não tem cura. Eu digo que é como enxaqueca: pode te pegar a qualquer instante, especialmente quando estamos vulneráveis, quando “abusamos” de potenciais agentes que podem desencadeá-la, voluntária ou involuntariamente.

Tem gente que tem enxaqueca quando come certas comidas, ingere certas bebidas, não tem? Com a DPS também pode ser assim. No meu caso, o frio do inverno canadense, com seus dias cinzentos, e sua duração, é um agente em potencial para acordar a DPS que mora dentro de mim. Agenda lotada de tarefas e a sensação de que não vou dar conta, associada à privação prolongada de sono, são outros dois grandes fatores. Alguém aí se identifica? Mamães com filhos pequenos? Foi esse, por exemplo, o motivo da DPS de Boechat.

Não digo que toda vez que estou nessas situações caio em DPS, mas há uma grande probabilidade de cair se as três acontecerem juntas.

Uma vez na depressão, como sair?

A pergunta de um milhão de dólares! Ah, se eu soubesse. Juro que contava!

De novo, acredito que o passo mais importante é se conhecer. Tudo o que vou dizer aqui vai parecer idiota, de tão óbvio mas, quando na crise, nem o óbvio a gente enxerga.

Descubra o que pode provocar DPS em você: há padrões de repetição? Exemplo: depois de 15 invernos canadenses no currículo, descobri que ele me afeta e sei exatamente como me afeta. Sendo assim, posso agir preventivamente e, o mais importante, perceber os sinais quando a DPS está querendo encostar. Para mim, o bicho parece uma nuvem, que eu consigo ver se formando lá longe no horizonte: balofa, preta, pesada, espaçosa, ameaçadora, caminhando, lentamente, em minha direção. E eu ali, só vendo o movimento, tentando me armar como posso. Até que se instala, bem em cima da minha cabeça, tomando conta do meu cérebro, entorpecendo minha visão, invadindo minha alma, escurecendo tudo aqui dentro. Dá falta de ar, dores musculares (porque a gente fica amuada, será?), um horror.

Mas, então, o que adianta conhecer as causas se não dá para preveni-la de acontecer, certo? Errado. Se não podemos preveni-la, dá para amenizá-la, e esse é o xis da questão.

Com conhecimento, vem a consciência, e consciência é um dos melhores remédios que podemos ter quando em DPS, principalmente nas crises.

Ainda no meu exemplo: quando o inverno começa, sei que tenho que dobrar minha dose de vitamina D, me cercar de pessoas de vibe boa, nem pensar em abrir mão da terapia e, se precisar, até entrar com medicação, para prevenir, ajudar a equilibrar meus índices de serotonina ou que for que estiver faltando.

Mesmo assim, esse ano, eu caí em DPS. Fiz tudo isso, mas não desacelerei. Foi batata: em uns dias agudos de inverno, depois de lidar com filha doente, marido ausente por estar trabalhando, também, feito louco, e a reclusão imposta pelo clima, senti a bendita da nuvem se formando e não tive força de enxotá-la.

Foram alguns dias de DPS e crise, não sei precisar quantos, porque ela tem o antes, durante e depois, como a enxaqueca, um tsunami: passa, devasta e deixa resíduos, até se dissipar por completo.

Mas quatro fatores diferenciaram essa crise daquela primeira: agora sei que tenho DPS (consciência), por isso posso me preparar para ela, o que o fiz (conhecimento). Agora, também, não sou só eu: tenho uma filha, que não tem ninguém por perto além de mim e do meu marido. O quarto fator foi, novamente, a minha filha, com a energia pura de criança dela (vibe boa) que, como eu disse lá no Insta, é o melhor antídoto para qualquer depressão!

No olho do furacão

Na crise, ao invés de trabalhar, dormia. Relutava pra tomar banho (o primeiro sintoma que estou entrando em DPS) e evitava conversar. Entrei no piloto automático, só fazia o que fosse extremamente necessário. Isso foi perto do final de semana. No domingo, quando mergulhei na crise, despachei marido e filha para a casa da sogra, que mora em outra cidade, e fiquei sozinha. Só eu e minha dor, aliás, minhas dores, porque o corpo doía tanto que parecia ter levado uma surra.

Dormi a tarde inteira, acordei e fiquei sentada, pensando no quê? Na morte, claro. Da bezerra? Não, da minha mesmo. E olha como a mente é engraçada: do nada, me lembrei de que uma amiga havia comentado sobre nascimento do bebê da filha de uma conhecida nossa que havia morrido um tempo atrás, numa morte suspeita de suicídio. Ela sofria de DPS crônica. E da minha morte, comecei a matutar sobre suicídio, que me fez lembrar do livro do Solomon. Que eu comecei a ler, a partir deste capítulo. E foi o que me tirou do torpor da crise de depressão. Consegui tomar banho e lavar a louça da manhã, embalada pelo The Voice Kids Brasil. Aí, sim, saí do buraco. Tem coisa mais deliciosa do que canto de criança?!

Quando minha família chegou em casa eu já conseguia olhá-los de uma maneira diferente, conseguia suportá-los. Ainda fui dormir com sintomas da crise mas acordei menos desanimada, mais consciente.

As horas extras de sono durante o fim de semana foram fundamentais para ajudar na recuperação, assim como o desacelerar forçado, do trabalho, a leitura do livro, que interrompeu o ciclo da crise, e a cantoria do The Voice Kids e da minha filha, logo de manhã, antes de ir para a escola. Não tem depressão que resista!

Nesta semana, tivemos muita neve por aqui, muita, coisa de 20 cm de acúmulo, o que eu acho divino de lindo, mas me paralisa de medo pensar em dirigir nestas condições, fora o frio (com temperaturas na casa dos -35­ graus Celsius).

No dia seguinte ao começo da minha recuperação eu cansei de ficar espiando a neve se acumulando no tampo da mesa que fica no jardim. Pensei comigo: “Quer saber? Eu vou é brincar na neve!” Só que não: a porta não abriu, estava congelada! Mas o medo da dupla bicho-papão Neve & Frio eu havia superado.

Moral da história

A crise foi dolorosa, mas foi curta. Ter consciência, estar alerta ao sinais foi o que me salvou.

Quando estiver em crise ou percebendo que a DPS está querendo se instalar:

  • Tenha consciência de que vai passar. Mentalize: “É como uma enxaqueca, vai passar. Não sou eu, é um distúrbio como outro qualquer. Vai passar”. Faça disso um mantra;
  • Agarre-se no que puder para sair da crise o mais rápido possível. Qualquer coisa que possa parecer promissor, no momento. No meu caso foi um livro, que comecei a ler mecanicamente, sem entusiasmo nenhum mas, por uma fagulha de consciência, sabia que poderia, talvez, quem sabe?, me tirar daquela situação;
  • Não esconda sua situação dos mais íntimos. Mantenho meu marido informado sobre o processo, também duas grandes amigas. Às vezes, só o desabafar, já ajuda;
  • Ouça uma música alegre, várias delas. Só as alegres e que não te remetam a nenhuma situação ruim, por favor!
  • Veja o The Voice Kids Brasil! Juro que não estou ganhando comissão!
  • Se tiver criança por perto, tente entrar um pouquinho no mundo delas. Ouça suas risadas, deixe-se maravilhar com a inocência delas;
  • Por falar em risadas, experimente esta técnica, que eu fiquei de boba de tão bem que funciona: dê um sorriso de orelha a orelha e veja o que acontece com o seu ânimo e seu cérebro. É incrível: assim que você faz o movimento de expandir os lábios para cima, seu olhar involuntariamente se levanta, dá uma coisa boa no estômago e fica difícil pensar em coisa ruim. É verdade, tenta! Eu viciei!
  • Por último, cuide-se, respeite-se, ame-se. A depressão é o ápice de uma série de atos violentos contra si mesmo. Identifique quais os seus e acabe coma danada.

Boa sorte na sua jornada e gratidão por ler este texto até o fim.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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