Faz mais de uma semana que fomos para o primeiro The Big Feastival aqui no Canadá e só de falar dele a saudade aperta, porque foi muito, muito bom mesmo.
Este post ficou enorme, porque não tinha jeito de não o ser. Foram três dias de um festival ao ar livre e inédito no Canadá, com uma programação gigantesca. Mas, ao terminar de ler, tenho certeza de que você terá material suficiente para decidir se inclui ou não o festival no seu planejamento quando visitar Toronto nesta época do ano ou, morando aqui, na sua listinha de eventos imperdíveis no verão.
O que é este tal de The Big Feastival?
O The Big Feastival, escrito assim mesmo, com um “a”, de feast, que quer dizer banquete, em inglês, é considerado o festival dos festivais gastronômicos, pelo seu escopo e o sucesso que vem fazendo desde sua primeira edição, lá no Reino Unido, há seis anos. Foi criado pelo chefe-celebridade britânico Jamie Oliver, que pensou num festival ao ar livre onde toda a família pudesse se divertir e comer bem, dos pequenininhos aos grandões, incluindo os pais.
Esta é a primeira vez que o festival é realizado em outro país, então a ansiedade era grande para ver o que ia dar. Eu mesma não sabia muito sobre ele antes do anúncio de que viria para o Canadá e, falando a verdade, não estava lá com muitas expectativas, não.
Vamos ver como foi?
Por aqui, o The Big Feastival aconteceu dias 18, 19 e 20 de agosto, no espaço Burl’s Creek, na cidadezinha de Oro-Medonte, perto de Barrie, a umas duas horas de Toronto. Por que não em Toronto?
É porque o evento foi idealizado para ser uma grande festa tipo quermesse, sabe? Ao ar livre, em campo aberto, convidando seus participantes a ficarem por lá mesmo, pertinho, nas premissas do festival, seja acampando ou de motorhome, e Toronto não tem um lugar assim.
Ingressos e acomodação
Apesar da filosofia simplista da coisa, demorou um pouquinho para eu entender como a questão dos ingressos funciona, porque há várias opções de combinações.
O primeiro passo é decidir se vai acampar ou não. Não acampando, é hora de decidir se irá atender todo o festival ou parte dele.
A partir daí, vão-se adicionando serviços ao ingresso escolhido: tendo resolvido acampar, pode-se usar sua própria barraca ou alugar uma por lá (neste caso, ela é montada para você e pode ser levada para casa, no final do evento) ou pode-se fazer glamping, que eu já explico o que é.
Acampando ou não, pode-se fazer um upgrade nos ingressos para ter acesso à área VIP: por CAD$100 extras por pessoa, tem-se direito a um espaço reservado, coberto, com bar e banheiros especiais (pré-fabricados mas com cara de banheiro de verdade), lindamente decorado e equipado com mesa coletiva, poltronas, cadeiras de praia, tudo com vista para o palco de espetáculo principal.
Quem paga para entrar?
Crianças de até 12 anos não pagam ingresso, mas somente no caso de a família ter optado por não se hospedar nas premissas do evento. Acampando, a história muda: daí, todos pagam, até bebezinho de colo (CAD$ 33,90), o que eu não gostei nada.
Quem acampa, tem direito a entrar no festival mais cedo, na sexta-feira à noite, e deve comprar ingresso para os três dias, já incluído no preço do camping. Para os demais, há a opção de ingresso para todo o final de semana (sábado e domingo) ou para cada um deles, em separado.
Eu vou te contar que já acampei muito na vida e cansei deste tipo de acomodação. Não abro mão de uma caminha de hotel macia, melhor ainda se tiver uma daquelas duchas poderosas no banheiro! Mas confesso que fiquei impressionada com a organização e limpeza da área de camping, com banheiros pré-fabricados, equipados com pias e boxes individuais para banho.
Visitei a área de camping no último dia, para ver como ficaria depois de três dias de festival e a chuva que quase não deu trégua, no sábado. Gostei do que vi. Além de limpo, o espaço também contava com uma vendinha, além da tenda para aluguel de equipamento de camping e WIFI.
Já glamping quer dizer “camping com glamour”, para aqueles que gostam de acampar mas não abrem mão de conforto e alguns mimos (igual a mim) e dinheiro não é problema (diferente de mim). Com esta opção, fica-se numa tenda de luxo, montada em área separada do camping normal, equipada com colchões de verdade, travesseiros, lençóis, mesa e cadeiras, além de um espaço separado com duchas e banheiros diferenciados e um concierge para chamar de seu durante toda a estadia.
Muita informação? Para uma melhor visualização, eu montei uma tabelinha com preços para hospedagem e ingressos, considerando uma família como a minha: dois adultos e uma criança de três anos:
É, não é um programa barato, ainda mais com a adição de serviços extras. Sem contar que paga-se pela comida consumida dentro do festival. Daí a pergunta: mas então, eu estou pagando pelo quê?
Está pagando pela programação de shows e eventos dos três dias de festival. Só no palco principal foram 18 shows, incluindo uma banda infantil muito famosa por aqui, o Splash’n Boots; para os adultos, a banda pop Dragonette, o grupo hip hop americano De La Soul e, fechando o festival, a banda de rock alternativo Weezer, entre outros.
Dentro do festival
O festival foi dividido em seções, com as barracas de comida e bebidas ao redor, perfazendo um grande círculo, com o palco principal ao fundo. À esquerda do palco, ficava o VIP Lounge e à direita, as duas áreas onde eu mais fiquei: o Little Dude’s Den (algo como “O Cantinho dos Carinhas”) e a Food Village (A Vila da Comida).
Chegamos lá na sexta-feira, já passando das seis da tarde, para uma prévia para a imprensa. Estava friozinho e tempo fechado. O lugar estava às moscas, com pouca gente no camping e quase ninguém nas dependências do festival, o que foi maravilhoso: parecia que todo aquele aparato era só para a gente e outros poucos.
Mas não foi esta cena o que nos marcou e o que daria o tom de como seria o restante do final de semana, e sim como nosso grupo foi recepcionado. Além do pessoal de relações-públicas, quem nos recebeu foi nada mais nada menos do que o chefe-celebridade Chuck Hughes (do programa “Receitas de Chuck”), que também havia acabado de chegar por lá.
Ele falou com a gente de shorts, camiseta e boné, sem nenhuma cerimônia. Foi um bate-papo gostoso, parecia que eu estava conversando com um amigo. Soubemos que ele havia trazido a família e que iria ficar acampando (ou “glampando“?) por lá durante todo o evento, juntamente com os outros chefes contratados para participar do festival.
Também soubemos que além de ministrar as aulas e workshops de culinária, todos os chefes também se envolveriam em outras partes do festival, como apresentar as bandas no palco principal, cozinhar com a molecada na Little Kitchen e até contar historinhas para eles, na tenda chamada Big Top, parte do Little Dude’s Den.
Depois do bate-papo, saímos para explorar o lugar, conversar com os poucos expositores que estavam com seus estandes abertos, sentir o clima; e parece que eles também estavam se sentindo como a gente: privilegiados por estarem vivendo aquele momento.
Ao cair da noite, as luzes do lugar deram um contorno mágico ao ambiente: a roda-gigante, o carrossel do parquinho, até as árvores ganharam roupagem iluminada. Os poucos que resolveram deixar suas barracas curtiam a música de uma banda desconhecida que tocava num dos palcos menores. Cada um na sua, apreciando o momento, a companhia, os amigos, a família.
O festival nem bem havia começado e eu já estava amando, simplesmente por tentar resgatar esta noção de comunidade, de família. E posso dizer que foi exatamente deste jeito até o último minuto que ficamos por lá. Dos comerciantes aos artistas, dos chefes aos voluntários e ao público que atendeu o evento, todos estavam na mesma vibe. Por mim, o festival poderia até mudar de nome, passando de The Big Feastival para The Big Peaceful, tamanho o clima de paz.
O melhor de tudo foi poder deixar a criançada à vontade. A Alicia pulou, brincou e correu tanto pra lá e pra cá que foi difícil contê-la para não sair correndo do nosso alcance em lugares públicos, novamente.
Tudo em família
Fizemos ioga juntas, andamos várias vezes nos três brinquedos do mini-parquinho (Xícara Maluca, Carrossel e Roda-Gigante), dançamos descalças, aos sons de nossas bandas e músicas favoritas. Dos programas para adultos, conseguimos assistir duas demonstrações culinárias: uma com o Hughes e a outra do agora chefe-estrela Danny Smiles, que comanda a cozinha do Le Bremner, um dos restaurantes de Hughes, em Montreal; também seu parceiro no programa de TV, Chuck and Danny’s Road Trip . Conseguimos participar de uma degustação maravilhosa sobre azeites de oliva e experimentar algumas das comidas e bebidas das barraquinhas.
Foram três dias mágicos, principalmente por estarmos vivendo numa época em que só se fala de terrorismo, intolerância, segregação.
Ok, mas o festival era sobre o que mesmo? Ah, comida!
Pois bem, comida. No papel, o The Big Feastival contava com mais de 50 barracas de comida e 20 expositores de bebidas, mas na prática a diversidade não pareceu tão grande assim. E desapontou no quesito gourmet.
Apesar de eu ter provado pratos e bebidas diferentes e gostosos, como um taco vegano divino (que eu não anotei o nome do lugar, que raiva) e um café gelado nitrogenado (este eu peguei, é o do pessoal super simpático do café Grounded Coffee), a maioria do que provamos ficou a desejar. E acho que eu não estou sozinha com esta minha percepção, não: as maiores filas acabaram se formando, justamente, nas barracas de comida mais simples: na de pizza e na de comida equatoriana, que oferecia uma espécie de paella enorme, além de arroz com legumes, frango e umas bolotas fritas de purê de batata.
Outro lugar que bombou foi a barraca de queijos da The Cheese Boutique que, acredito eu, tenha se filiado com a padaria ACE Bakery, porque as duas estavam dividindo o mesmo estande, sendo que a padaria estava distribuindo, gratuitamente, uns pãezinhos salgados, feitos especialmente para o evento, recheados com queijo brie e chocolate Lindt derretidos, a versão deles para o Smores, o clássico sanduíche norte-americano de bolacha cream cracker e marshmallow . Ai, ai, ai, o que era aquilo? Entrei na fila umas dez vezes e acho que muita gente deve ter sobrevivido durante todo o festival só comendo isso, viu?
Tudo o que se consumia era pago à parte, a não ser amostras de degustação. E os valores não eram baixos, não. Um picolé de frutas a CAD$ 5, um café, o mesmo preço. Para pratos maiores, gastava-se em torno de CAD$10, CAD$12 por pessoa (como a pizza e a comida equatoriana). A forma de pagamento era cartão de crédito ou débito. Dinheiro em espécie não era aceito. Terminamos o final de semana com recibinhos em tudo quanto foi bolso.
Como a Alicia é enjoada para comer, eu sempre saio com uma marmitinha para ela e na sexta-feira não foi diferente. Levei sopa, o arroz branco que ela gosta, alguns iogurtes, suco; só não frutas porque imaginei que encontraria por lá. Mas não; apesar de eles terem montado um Producer’s Market, que quer dizer mercado de produtos vindos direto do produtor, só o que havia ali era: mel, maple syrup, óleos, azeites, essas coisas. Frutinha fresca que é bom, nada.
Na sexta, a Alicia comeu toda a sopa mas vi que ainda precisava de algo mais (o restante da comida ficou no hotel). O que salvou nossa pele foi uma barraca de milho cozido. Três espigas que custaram o olho da cara (CAD$ 21), mas ao menos era comida de verdade…
Fomos para casa no sábado, mas voltamos para o festival no domingo. Daí, sim, fui mais preparada e percebi que muitas mães fizeram o mesmo. Apesar do número de expositores, o que faltou foi uma variedade de comidas saudáveis, especialmente para a criançada. Havia muita tranqueirinha, como: donuts, sorvete, biscoitos, mas nada para encher a pança de forma nutritiva. Me espantei por não ter encontrado um estande sequer vendendo uma boa macarronada com um molhinho de tomate honesto. Que é isso Jamie Oliver, seus filhos não gostam de macarrão, não?
Otras cositas más
Para terminar, o que pode ser melhorado para as próximas edições: os banheiros químicos e o tratamento diferenciado da área VIP. Durante os três dias, não presenciei nada de desagradável nos banheiros portáteis, mas achei uma aberração a diferença destes para o pré-fabricado da área VIP. Sem contar que não consegui encontrar um lugar para lavar as mãos próximos a eles, enquanto que o da área VIP contava com pias e torneiras de verdade.
Por ser um festival ao ar livre, mudanças de tempo podem ocorrer, e ocorreram. Choveu um montão no sábado e quem não tinha optado por acesso à área VIP, toda coberta, teve de se virar para não se encharcar. Na minha opinião, pelo preço do ingresso e por ser um evento para famílias, onde é esperado um número grande de crianças, os organizadores deveriam ter disponibilizado mais áreas cobertas, gratuitamente.
O mesmo vale para trocadores de fralda. Eu não encontrei um sequer, a não ser na tenda para amamentação. No material de divulgação do festival, dizia-se que haveria um trocador em cada área de banheiros mas, se havia, eu não os encontrei.
No frigir dos ovos, continuo achando que ter ido ao primeiro The Big Feastival no Canadá foi uma experiência fabulosa. Cara, mas fabulosa. Nem tanto pela comida mas, como eu disse anteriormente, pela paz com que saímos de lá. Foi inexplicável, só estando lá para ver. Espero que este sentimento perdure para as próximas edições que virão.
Para quem estiver pensando em vir para o Canadá em 2018, fique atento às datas para o festival do ano que vem. Os organizadores já garantiram que vai ter repeteco mas a data pode mudar.
Esclarecendo: eu fui ao evento a trabalho, com credencial de jornalista concedida pelos organizadores do evento, e levei meu marido e minha filha comigo, que também não pagaram ingressos para entrar. Tivemos estacionamento pago e acesso à área VIP durante os três dias. As despesas com transporte, refeições e hospedagem saíram por nossa conta.